Documento é assinado por coletivo internacional de jovens cientistas

Apenas 0,2%  das  pessoas trans acessam as universidades no Brasil, segundo a  Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O baixo índice revela o alto grau de preconceito e marginalização desse grupo de pessoas na sociedade  e motivou a publicação de uma carta aberta sobre o tema em uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo, a Science. O documento, assinado por jovens pesquisadores vinculados à Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência faz recomendações para construção de um futuro pós-pandemia mais diverso e inclusivo.

As propostas elencadas na carta envolvem desde o respeito aos nomes e pronomes com os quais as pessoas transgêneras se identificam até manifestações contra políticas e leis transfóbicas. Além disso, indica  o desenvolvimento de políticas inclusivas de mudanças de nomes e assistência médica específica para cientistas trans. Os co-autores do manifesto são da Universidade de Montreal, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Maryland, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade de Campinas (UNICAMP) e Museu da Amazônia.

Na carta, os pesquisadores apontam que pessoas transgêneras enfrentam barreiras em todos os estágios da sua carreira acadêmica, dificuldades impostas pela sociedade de maneira geral e, também, pela própria comunidade científica. Durante a pandemia da covid-19, as dificuldades se intensificaram, gerando instabilidade na carreira científica desse grupo.

A bióloga e estudiosa da Filosofia da Ciência, Lucy Souza, alerta que argumentos pseudocientíficos e perspectivas religiosas invalidam a existência trans, apagando-a do mapa social. “Faz-se urgentemente necessário o reconhecimento das opressões estruturais sobre nossos corpos”, reivindica. No mais, Lucy solicita “ações tanto de esfera pública quanto da própria academia para reparação histórica de tais agressões e desinformações vinculadas livremente em nossa sociedade”, enfatiza a pesquisadora, que é mulher trans e co-autora do artigo.

O que é a Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência?
Um coletivo (https://www.instagram.com/kunhaase/) formado por pesquisadores e fundado com o intuito de promover a diversidade na ciência, fornecendo apoio emocional e intelectual para mulheres cientistas e fomentando o ingresso de meninas e mulheres no campo científico. Fundamentada na noção de interseccionalidade, a rede e suas integrantes acreditam que a experiência, vivência e presença de pesquisadores transgêneres são imprescindíveis para a promoção de espaços mais diversos e saudáveis na comunidade científica.

Leia a carta em: tps://science.sciencemag.org/content/369/6508/1171.3

Citação: “Supporting transgender scientists post-COVID-19”. Shaun Turney, Murillo M. Carvalho, Maya E. Sousa, Caroline Birrer, Tábata E. F. Cordeiro, Luisa M. Diele-Viegas,Juliana Hipólito, Lilian P. Sales, Rejane Santos-Silva; and Lucy Souza; Science, 2020. DOI: 10.1126/science.abd8933

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